Francisco del Castilho estava atônito. Viera dar a última
demão à imagem que esculpira e não só a encontrara
terminada, mas transformada até nos entalhes.
"Madres! esta imagem não é obra minha, mas angélica", exclamou tomado de temor reverencial.
Madre Mariana de Jesus Torres e suas monjas sabiam
que isto era verdade. A imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso, que o hábil escultor iniciara, fora milagrosamente terminada por Anjos que entoavam o hino Salve Sancta
Parens, ouvido por toda a Comunidade...
Não era a primeira vez que Mariana de Jesus Torres
y Berriochoa, uma das sete espanholas fundadoras do
Monasterio Real de la Limpia Concepción, em Quito,
deparava-se com um fato dessa natureza.
Sua vida, desde os 13 anos de idade, não tinha sido senão
um contacto contínuo com o sobrenatural.
As aparições de Nosso Senhor, de Sua Santa Mãe, de Santos
e de demônios, eram-lhe freqüentes.
A essa filha de Santa Beatriz Silva foi desvendado o
futuro como a poucos. E as revelações que lhe foram
feitas, sobretudo as concernentes aos nossos dias,
impressionam pela precisão, riqueza de detalhes e
semelhança com as de Fátima.
"Sou Maria do Bom Sucesso, Rainha do Céu e da Terra"
Foi a 2 de fevereiro de 1594 que a Santíssima Virgem
apareceu pela primeira vez à então Priora das Concepcionistas
na capital equatoriana. Comemora-se, pois, a 2 de fevereiro
a festa litúrgica dessa admirável invocação mariana.
Catolicismo já se ocupou dela mais de uma vez, especialmente
em sua edição de fevereiro de 1996.
Entretanto, nunca o fez com a amplitude e a profundidade
com que apresenta agora o mesmo tema, de tanta
transcendência para a compreensão de nossos conturbados
dias, que presenciarão os acontecimentos desse fim de
século e de milênio.
Madre Mariana, com a fronte em terra, com lágrimas e
suspiros, suplicava à Divina Majestade remédio para os
muitos males que afligiam aquela colônia e seu convento.
Ouviu então uma voz celestial que a chamava pelo nome.
Viu à sua frente Nossa Senhora refulgindo em meio a
imensa claridade. Trazia o Menino Jesus no braço esquerdo,
e um báculo de ouro na mão direita.
-- "Sou Maria do Bom Sucesso, Rainha dos Céus e da Terra", declarou-lhe a Mãe de Deus. "Tuas orações, lágrimas e penitências são muito agradáveis a nosso Pai celestial.
Quero que fortaleças teu coração e que o sofrimento não te abata. Tua vida será longa para glória de Deus e de sua Mãe,
que te fala. Meu Filho Santíssimo te presenteia com a dor em todas as suas formas. E, para infundir-te o valor que
necessitas, toma-O de meus braços nos teus".
Ao tomar o Menino Jesus nos braços, sentiu um desejo
maior de sofrer e de se consumir como vítima para
aplacar a Justiça Divina, se possível, até o fim do mundo.
Na seguinte aparição, em 16 de janeiro de 1599, Nossa
Senhora deu-lhe conhecimento de vários fatos futuros.
E declarou a Madre Mariana de Jesus:
"É vontade de meu Filho Santíssimo que tu mandes
executar uma estátua minha tal qual me vês, e a coloques
sobre a cátedra da Priora para que daí governe meu Mosteiro. Que os mortais entendam que Eu sou poderosa
para aplacar a Justiça Divina e alcançar piedade e perdão
a toda alma pecadora que a mim recorra com
coração contrito. Porque eu sou a Mãe de Misericórdia,
e em mim não há senão bondade e amor".
Durante os anos seguintes, Madre Mariana sofreu um
terrível calvário e foi só a 5 de fevereiro de 1610
que o escultor foi chamado.
Francisco del Castilho, espanhol de nobre linhagem,
vivia santamente em Quito com a esposa e três filhos.
Recebeu a encomenda como uma graça do Céu.
E a 9 de janeiro seguinte declarou que a imagem estava praticamente pronta.
Faltava a última demão de pintura. Ele iria procurar
as melhores tintas existentes na Colônia,
e voltaria no dia 16 para concluir o trabalho.
São Francisco e os três Arcanjos refazem a Imagem
inacabada
Na madrugada desse dia, quando as religiosas se dirigiram
ao Coro para rezar o Ofício, encontraram-no todo iluminado
por luz sobrenatural, e ouviram vozes angélicas que
cantavam o "Salve Sancta Parens".
Da Imagem inacabada saíam raios vivíssimos. A pintura-base aplicada por Del Castilho caía ao solo junto com aparas de madeira, os traços da Imagem tornavam-se mais suaves
e sua fisionomia mais celeste. Mas somente Madre Mariana
via que, como pedira, São Francisco e os três Arcanjos
refaziam a Imagem.
Francisco del Castilho não se limitou a dizer que a Imagem
não era obra sua, mas de Anjos. Lavrou um documento
no qual repetia tal afirmação sob juramento, declarando
ainda que a encontrara terminada de maneira diferente da
que deixara. Entregou o documento às religiosas para
perpetuar a prova do milagre.
Madre Mariana contou pessoalmente os detalhes do ocorrido
ao Bispo de Quito. E acrescentou algo que nos diz muito respeito: o sucedido, bem como sua vida, só seriam revelados
no século XX, por causa da "muita decadência da fé" (II, 41) e do papel que deveria ter então essa invocação de Nossa Senhora do Bom Sucesso.
-- "É vontade de Deus reservar esta invocação e tua vida", dissera-lhe Nossa Senhora em outra ocasião, "para aquele século, quando a corrupção de costumes será quase geral
e a luz preciosa da Fé estará quase extinta" (II, 193) (2).
E, em uma aparição de Nossa Senhora a 8 de dezembro de
1634, a Rainha do Céu e da Terra assim profetizou a Madre Mariana: "O meu culto sob a consoladora invocação do Bom Sucesso .... será a sustentação e salvaguarda da Fé na quase
total corrupção do século XX" (II, 190).
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